
06 dez Procure primeiro Compreender, depois ser Compreendido
O desejo de ser compreendido supera o de compreender. Porém, deveria ser o contrário.
Deixa eu te contar uma história onde tudo isso se encaixa.
Era uma Segunda-feira, por volta das 7 horas da manhã. Desde de domingo estou tentando falar com a diarista. Preciso trocar sua vinda na segunda-feira pela terça ou sexta-feira. Ela costuma ter horários flexíveis.
Primeiro, envio mensagem perguntando se ela pode fazer a troca. Nenhuma resposta. Em seguida, ligo para o seu celular. “Vivo informa…” Deixo rolar. Vou passear com os cachorros, e aviso meu marido que se ela aparecer, tudo bem.
Volto do passeio e me deparo com o meu marido saindo para trabalhar: “Jussara, a diarista ligou. Ela viu sua ligação, mas não atendeu pois estava na bicicleta, vindo trabalhar. Quando ela viu a sua mensagem, decidiu voltar pra casa. Ela vai te ligar”.
“Ok, você perguntou a ela se tinha visto minhas mensagens anteriores”, perguntei. “Não estiquei a conversa. Vocês que se entendam.”, ele responde sem paciência. Me dá um beijo e entra no carro.
Logo em seguida recebo a mensagem da diarista pedindo desculpas por não ter respondido. Estava sem internet. Que número é esse?, pensei. Respondi dizendo: “Oi, você precisa me informar quando trocar de número, senão não conseguimos nos comunicar”. Ela pede desculpa novamente. E eu, estou brava.
Em seguida, paro por um instante; e começo a refletir sobre o 5º hábito descrito no livro “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, de Stephen Covey. Ele diz; “Procure primeiro Compreender, depois ser Compreendido”.
Espera aí, ninguém precisa ficar conectado 24 horas por dia, certo?! Eu mesma demoro “uma década” para responder as mensagens no Whatsapp.
Percebi que estava confortável do meu lado, mas não parei para pensar no dela. Se era urgente, porque você não ligou ao invés de mandar mensagem?, mais uma vez, minha consciência chama minha atenção.
Segundo Covey, tendemos a atropelar os sentimentos das outras pessoas. Saímos em disparada, a nosso modo, investigando, avaliando, aconselhando ou interpretando. É tão automático, que esquecemos até de respirar, sem tentar compreender. É o nosso Logos.
Estamos condicionado com respostas e atitudes programadas por antigos hábitos. Por isso, a importância de compreender primeiro, depois ser compreendido.
A seguir, três atitudes sugeridas pelo autor afim de ajudar a compreender primeiro, e depois ser compreendido.
1) Ouvir com Empatia
Particularmente, essa foi, e ainda é, uma das atitudes mais difíceis de colocar em prática. Na maioria das vezes, quando as pessoas falavam comigo, se não fosse do meu interesse, prestava atenção apenas no começo da conversa. Em seguida, lá estava eu, pensando na minha resposta ou tentando projetar minha autobiografia. O que eu faria no lugar dela.
Hoje, escutar e prestar atenção na fala do outro é uma forma de me doar. Doando a minha atenção ao meu interlocutor, estou demonstrando que me importo com aquilo que ele compartilha comigo. Em paralelo, vigio minha mente para ficar focada na conversa, sem desviar os pensamento ou ficar preocupada em expor, a todo custo, a minha opinião. Você deveria fazer isso. Eu fiz.
Exercito o ouvir com empatia diariamente. Principalmente, com àqueles cujos pensamentos são diferentes dos meus.
Quando você se coloca a disposição de ouvir o outro, a energia que se cria é palpável. A pessoa que está falando se sente importante. Dar atenção é a melhor forma de demonstrar que você se importa e valoriza alguém.
2) Diagnostique antes de Prescrever
Ninguém confia na prescrição de um médico se não confia no seu diagnóstico. Certo?
Pois bem, antes de sair fazendo pré-julgamentos, é preciso diagnosticar a situação, compreender o que aconteceu. Lembra do caso da diarista?
“Um bom pai ou mãe compreenderá, antes de avaliar ou julgar. Um bom professor vai tentar conhecer a classe, antes de ensinar. A chave para o julgamento correto é a compreensão. Se julgar primeiro, a pessoa nunca vai entender completamente”, afirma Covey.
Em entrevista a Revista Trip, Leandro Karnal – autor, historiador, educador – , revela que se tornou-se um professor melhor quando decidiu que só poderia oferecer o prato ao aluno, ao invés de forcá-lo a comer.
“Quando dava aula no ensino médio, na FAAP [ tinha em torno de 30 anos], eu dava o prato e forçava a comer. Isso causava efeitos positivos em alguns e resistência em outros. Hoje o meu Narciso é um pouco mais domado do que quando eu era mais jovem. Ofereço o melhor prato possível; o que vai ser aproveitado dele foge ao meu controle.”
Como educador, Karnal compreendeu, diagnosticou, ele entendeu que não poderia forçar o aluno a absorver suas idéias. É o livre arbítrio. Cada um faz suas escolhas. Monta seu próprio prato. E se ele quiser fazer uma “mistureba” no “self service” da vida, que seja! Em particular, eu prefiro “a la carte”. Sem pressa.
Enfim, você até pode ajudar com conselhos, mas o melhor mesmo é entender primeiro. Escutar, perguntar, saber o que está se passando. Só assim, a “prescrição” será útil para o outro. E, por vezes, ouvir é o suficiente. Nessa hora, imagine-se com um zíper fechado na boca. Pode ajudar.
3) Primeiro Compreenda, depois Se Faça Compreender
Covey explica o conceito através da história dos antigos gregos, cuja filosofia era o reflexo de três palavras organizadas; ETOS, PATOS E LOGOS.
Essas palavras trazem a essência do Compreender Primeiro.
ETOS trata-se da sua credibilidade pessoal. É quando as pessoas acreditam na sua integridade e competência. É, simplesmente, a confiança que você inspira.
PATOS é o seu sentimento, o lado empático. Representa a sintonia que você tem com a outra pessoa através da comunicação.
E, LOGOS é a lógica; a comunicação pensada. O indivíduo realista, científico, prático… até demais!
Em sequência: ETOS, é o seu caráter; PATOS, seus relacionamentos e LOGOS, é a lógica da sua comunicação.
A questão é que, na maioria das vezes deixamos ETOS e PATOS de lado e vamos direto para o LOGOS – a lógica das coisas ou das situações. Queremos analisar.
No caso da diarista, não foi diferente. Não viu minha mensagem, como assim?! Pois é, ficar sem internet pode acontecer nos dias de hoje. Mais vezes do que imaginamos.
Por isso, é preciso ouvir de forma empática, diagnosticar antes de prescrever, e, por fim, compreender. Só assim, seremos mais assertivos ao expor nossas ideias, de forma clara e objetiva. Dentro de um contexto que leva em consideração as preocupações do outro.
Depois que refleti a respeito da posição da minha diarista, minha atitude passou a ser de entendimento. No final, conseguimos nos acertar, felizmente. Não houve espaço para ressentimentos.
Compreender Primeiro e Depois ser Compreendido é um exercício contínuo. Mas que pode provocar mudanças significativas na sua vida. Da mesma forma que vêm provocando na minha.
Um grande abraço.
Namastê.
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Escritora, casada, ex-workaholic. Adora bichos e viajar. Descobriu-se escritora aos 39 anos de idade. Em 2015, seu Retorno de Saturno “particular” foi um incentivo para uma reviravolta na vida. As dificuldades no casamento e as insatisfações com a profissão a levaram para esse mundo encantador da escrita. Autora de Os Opostos se Distraem e Descubra seu Propósito.
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